domingo, 9 de dezembro de 2012

Estampado no meu sorriso metido a ingênuo,
de sobrancelha esquerda erguida.
Essa menina só quer trepar e sair fora.
Engano bem,
penso orgulhosa. Gemo baixinho.
Meus pés se arrastam pelo lençol
Vira.
Viro.
Meus pés se arrastam pelo lençol. Gemo alto.
Me esquenta o sangue
Desdobra o lençol
Por cima,
por cima.
Víscera, pele,
Gozo.
Dorme aqui.
Cadê o cigarro?

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Se há algum extremo a ser alcançado, atingi o meu. Parece triste que meu extremo seja em um quartinho de um hotel de quinta categoria com a piteira de um lado mas sem nenhum isqueiro, garrafa vazia ou corpo nu noutro. Atingi o extremo ao sentir que o frio que me sobe pelos calcanhares me invade as estranhas e façanhas. Eu ainda era menina-mulher quando certas ideias iam me puindo a mente. Aos poucos, elas foram ficando eretas, sendo preenchidas de sangue e tesão, de um jeito meio másculo, viril, mas que me traziam tanta crueldade que tomei gosto pela coisa. Como se, em essência, precisássemos ser grandíssimos filhos da puta pra atingir a plenitude.

sábado, 9 de junho de 2012

ao único homem que amei
entreguem-lhe meus cadernos 
meus rodapés apaixonados
desengavetem meus diários

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

De uns tempos pra cá, tudo o que venho conquistando é uma caixa de entrada recheada de caras embriagados se declarando de um jeito meio torto. Eu sempre os achei fodidamente infelizes de fazer algo tão bonito de um jeito tão torto. Eu sempre achei quem manda flor fodidamente infeliz. Mas eu vou vivendo, vou mandando as flores de volta pro remetente, anexando Fulano à pasta que vai direto pra lixeira. Meio de coração apertado porque sei que o filho da puta deve ter analisado a quantidade de autores, escritores, movimentos, poesias ("a petition is a poem") por quem eu sou apaixonada, sem medir esforços. Queria escrever pra Deus mas, aos dezoito anos, a gente não sabe se acredita em Deus. Então sei lá, Vinicius, sei lá, Jobim, se a vida tem sempre razão mesmo. Mas Bortolotto tem razão, Henry Miller tem razão, Kerouac tem razão. Todos eles gritando na minha cabeceira, implorando pra que eu não os tire nunca dali porque a solidão também os enchia de inquietudes e eu gosto de dizer, à noite, baixinho, que eles não estão sozinhos.